Num ímpeto de lucidez sem par,
Intentei com ânimo a procurar
A essência pura da Poesia.
Onde estaria sua alquimia?
Na beleza das palavras, na harmonia?
Deve habitar um lugar elevado, pensei.
No alto da montanha mais imponente.
A promessa do encontro fazia-se, então, mais presente.
Comecei a jornada, andei, corri, procurei.
O sol parecia queimar-me as entranhas.
Sem sinal do sonho almejado,
Desistir, assombrava meus pensamentos, conturbados.
Me ergui, fortaleci, conquistei.
O topo era meu, enfim.
Quase toquei o céu, o infinito.
A luz derramava-se sobre os cumes mais altos.
Naquela vastidão, certamente, ela estaria.
Qual foi minha surpresa, quando não a encontrei.
Desci ao vale, adentrei a mata densa,
Ouvi a melodia de um rio profundo,
A água mais pura corria, indomável.
Refresquei a minha alma.
A vida fluía em direção ao horizonte azul.
A esperança florescia, era primavera.
Ali, ela estaria!
Mais uma vez a busquei, mergulhei
E…. nada! Ela escapara.
Estaria eu fadada a jamais contemplar sua face?
Por que, então, esse sonho me encantava?
Assim persisti.
Passo a passo, degrau a degrau.
Nessa peregrinação sem fim,
A chuva abraçou a terra, o sol brilhou, eterno.
as flores se despediram, o frio chegou.
E eu… continuei!
Atravessei desertos, experimentei oásis.
Em certa altura, sem ânsias em demasia,
Com o entusiasmo certo da travessia,
Encontrei outro lugar, uma nova dimensão,
Silenciosa!
O tempo, imóvel, o espaço, desvanecido.
Contemplei o meu próprio coração.
A lucidez fluía de um ponto luminoso
E descobri:
A poesia é a terra e o céu.
É o vale e a montanha,
O auge da jornada e o primeiro passo.
Os pés cansados ou despertos,
A tempestade e o sol.
A correnteza do rio, o mar,
A travessia.
A poesia sou eu!